09/10/2013

Hoje não fazes anos

Pela primeira vez desde que me conheço, não fazes anos hoje. Não vais mais fazer anos.

Lembro-me sempre da avó que ia aos arames com o estenderete da brincadeira, quando tudo era matéria-prima para construir tendas na sala de estar. Da avó que fazia sopa como se cada prato tivesse de ter sustância para 3 dias. Da avó que dizia cibinho em vez de bocadinho, beigue em vez de bug e intermext em vez de Internet. Da avó de paciência infinita com o avô. Das idas ao mercado do Bolhão e do pão que eu pedia sempre antes de vir embora. Da avó que guardava tudo e mais alguma coisa e nunca sabia onde estavam as coisas. Da avó que adorava plantas e mais plantas. Da avó que ouvia mal, "não sei o que dizes, filha". Da avó que tirava a espuma do café toda. Da avó que tanto gostava de se queixar, mas que era das pessoas mais compreensivas e serenas que já conheci. Da avó que dava abraços muito, muito apertados. 

Quero lembrar-me sempre de ti assim, mesmo que nunca mais vás fazer anos. 




05/09/2013

Má educação

Confirma-se, algumas coisas não mudam desde que era miúda: a irritação profunda com velhotas que passam à frente da fila para o autocarro sem dizer nadinha. São as primeiras a dizer que a juventude é mal educada quando o exemplo delas consiste em fazer dos outros parvos. Pior que ter eventuais dificuldades em andar é ter sérias dificuldades em usar o bom senso.

23/08/2013

É do calor

Repetir mentalmente: não sou responsável pelas decisões dos outros. Sou responsável por deixá-los tomá-las sem lhes dizer que acho que estão a cometer um erro, tudo porque não quero ser responsável pela sua tristeza ou falta de coragem para avançar. 

Ser mais amigo é apoiar mesmo que não concordemos, ou dizer que honestamente não concordamos? Entre amigos diz-se tudo mesmo que isso magoe ou faz-se das tripas coração para apoiar, mesmo discordando?

13/05/2013

Quando o tempo nos apanha

Todos sabemos que o tempo passa e que é inevitável que passe. Mas insistimos em ver algumas pessoas como eternas; aquelas que sempre estiveram connosco e que nos viram (e ajudaram, e muito) a crescer. O tempo apanha-nos quando percebemos que agora, são elas que precisam da nossa ajuda para as mesmas coisas em que nos ajudavam. É aí que levamos aquele estalo da vida, a lembrar que há muito poucas coisas eternas, e muito menos pessoas. A lembrar que um dia, vamos ter de dizer adeus.

02/04/2013

É da chuva (e deve ser da Primavera também)

Chove há tanto tempo que parece que não mudamos de mês há meses. Sim, toda a gente fala disso, queixa-se, ameaça emigrar (ainda mais) e solta impropérios quando acorda e vê mais um dia feioso. Nada nos motiva tanto no queixume como a meteorologia. No entanto, acho que hoje tive um sinal claro de que a Primavera vem aí, de vez: uma das minhas violetas, que não dá flor há mais de três anos, TRÊS - as violetas são temperamentais e armam-se em esquisitinhas com os sítios - tem um botão de flor prestes a abrir. Por isso, é desta que estou superconfiante. Se isto não resultar, não sei o que resultará (mas estou já a pensar nisso, é o meu plano B caso toda esta superconfiança falhe. Aguardemos.

19/01/2013

Ele há dias

Tomamos uma decisão errada, simples, mas errada. O universo encarrega-se de nos mostrar, minuto a minuto desse dia, que tomámos uma decisão errada, por todas as vias possíveis e imagináveis, várias vezes ao longo do dia. Às vezes, da pior forma possível.

A única coisa positiva do dia de hoje foi ter adiantado a leitura devido a uma das maiores secas que apanhei na vida, ter tido uma total desconhecida a emprestar-me 30 cêntimos e ter um velhinho a contar-me a vida toda como se o conhecesse há 50 anos, durante 2 longas horas. Haja alguns pontos positivos, no meio da intempérie que envolveu levantar muito cedo com poucas horas de sono, secar escusadamentr num comboio, assistir mais uma vez a incompetência total para gerir uma situação de crise, tudo para chegar à conclusão que a decisão mais sensata envolvia...voltar para trás. Voltar atrás, tornando ainda mais inúteis todas as secas desse dia. Foi como se este dia nem tivesse existido, de tão absolutamente inútil.

O que vale amanhã é sempre outro dia, mesmo que hoje pareça não ter existido a não ser para nos tirar anos de sanidade.

11/01/2013

Lições pela manhã

Uma tentativa desatenta de panificação à herói (ou seja, insistindo na experiência apesar de faltarem ingredientes e de se descurarem partes importantes da mesma) resultou em redundante fracasso: uma tentativa de pão enchumbada, que apesar de passar facilmente num aeroporto cheio de regras se poderia transformar facilmente numa letal arma de arremesso. Julgo até que com propulsão adequada, o "pão" envergonharia vários metais mais pesados. Pois que a comida também pode ser uma arma.

05/01/2013

Do pão

Há muito tempo que ando num lento início de relação com o pão caseiro. Já houve algumas tentativas com sucesso, algumas com menos. No decurso da coisa, e à medida que ia lendo e descobrindo sobre pão, constatei que o melhor mesmo era fazer um workshop com quem soubesse mais da poda, para impulsionar a coisa. Esse workshop é hoje. E se eu já sou uma pessoa de opiniões vincadas relativamente à comida e aos ingredientes, temo vir muito pior logo à tarde; mas também com muito mais vontade de dar continuidade à relação com a panificação. A boa-nova é que mais impossível de ouvir eu não devo ficar, porque eu já consigo ser bastante...como dizer...persistente. Aguardemos.