25/03/2021

Querida avó,

Tenho aqui perto o cacto que “era meu” há anos, e que me dizias para trazer sempre que te visitava. Veio onde nunca vieste, e agora mora aqui, comigo. 

Tenho muitas e boas memórias de crescer contigo, naquela que foi sempre a tua casa. Muitas delas, envolvem comida: lembro-me de comprares arrufadas e bolos para o lanche e de fazeres cevada forte, rissóis, arroz de frango, inúmeros pratos inventados “daquelas coisas que tu comes”, quando passei a ser vegetariana. Bolos fazia a tia, tua irmã, a tua especialidade era o pudim, que era bom mesmo quando saía mal. A mousse de maçã com pêras bêbedas também era presença assídua nos almoços de Domingo. Ah, os almoços de Domingo; deixaram muitas saudades, por mais que na época me parecessem apenas uma obrigação incontornável.

Deixavas-nos fazer practicamente tudo, a mim e à minha irmã, mesmo que implicasse uma desarrumação descontrolada: o exacto oposto do que tínhamos em casa, e que por isso mesmo, sabia pela vida.

Lembro-me de adormeceres a rezar. De estares sempre a dizer, guarda, depois vais ver isto e pensar que foi a tua avó que fez; tinhas razão. A toda a hora, vejo coisas que fizeste e penso em ti. Foi uma vida de coisas que deixaste, porque - e ainda bem - nunca estavas parada; e também porque não deitavas quase nada fora. Foi também uma vida cheia de histórias para contar, sobre pais, irmã, irmão, os filhos, as netas, a restante família toda, as “moças” e “moços” que conhecias. 

Não foi tudo um mar de rosas ao conviver contigo. Eras teimosa, intransigente nalgumas coisas, até ao fim, há um ano atrás. Nem sempre eras simpática e compreensiva; todos tentavam perdoar, porque eram coisas tuas. Felizmente, não chegaste a notar pandemia nenhuma. Porque se tivesses notado, é porque seria o fim do mundo a chegar. Para ti, chegou a uns belos e preenchidos 99 anos.

Pois. Era o que respondias, quando já não ouvias muito bem. Dava para tudo. Pois.

Pois bem, avó, essa mesma pandemia que não chegaste a conhecer fez com que a despedida fosse bem de longe. Desculpa. Já te fui visitar depois, mas não é a mesma coisa.

Sim, avó, eu continuo sempre a ter cuidado ao atravessar a rua, a ter cuidado com o sol na cabeça, a agasalhar-me, a fechar bem a porta, mesmo que já cá não estejas para me lembrar sempre.

Fiz de ti avó, e vou ser sempre a tua neta.

Com carinho,

Isa

(Maria Emília Sousa, 23 de Outubro de 1920 - 25 de Março de 2020)

14/01/2019

12

Foi há doze anos, no dia 02/01, que me mudei mais para sul. Estava longe de pensar que doze anos depois, ainda por cá estaria.

Algumas vezes, penso em como seria a vida se não tivesse tomado a decisão de me mudar; não consigo chegar a grandes conclusões. Será que era tudo assim tão diferente? Ainda seria próxima de pessoas que me eram mais próximas na altura? Nunca iria conhecer algumas pessoas que são tão próximas hoje? 

Sempre achei, e ainda acho, que o sítio onde estamos e se estamos "perto" ou "longe" fisicamente não é assim tão importante, por mais que muitos possam discordar. Respondo  sempre com alguma indiferença às centenas de vezes que já me perguntaram quando "voltava", não porque desmereça a cidade que me viu nascer, ou a família e os amigos que lá estão (e que o são independentemente das coordenadas), mas porque estar um pouco mais longe não significa que essa não vá ser sempre a minha cidade, a casa do meu coração, aquela casa da qual uma pessoa nunca se muda porque faz parte de nós.

Por isso, doze. Que este número que também me trouxe ao mundo traga boas surpresas (e vai mesmo trazer). E que eu continue a não sentir assim tanto a distância, mesmo quando ela estiver a tentar por tudo provar que existe.



30/11/2018

Fé na humanidade: ligeiramente restaurada

Acho sempre que sou uma pessoa que não dá demasiado nas vistas, apesar de ser bastante fiel a sítios e a pessoas: vou à Anabela e à Paula à fruta. Já me conhecem no supermercado, porque invariavelmente vou por volta da mesma hora. A senhora da loja a granel? Unha com carne. A Dona São dos congelados só lhe falta vir às minhas festas de aniversário, de tão bem que trata as pessoas, como se fossem as mais importantes do mundo; merecia acesso a pelo menos duas fatias de bolo.

Depois há sítios onde não vou assim tanto, vou voltando ocasionalmente: é o caso da mercearia que vende pão alentejano. A senhora é alentejana e de poucas falas, mas parece reconhecer-me porque trago quase sempre o mesmo: pão alentejano. Enquanto pagava hoje, disse entredentes, bela dor de cabeça, deve ser da fome. E continuei a guardar as compras. Vejo a senhora lentamente a dar a volta ao balcão, a pegar num frasco e a aproximar-se. 

"- Tire uma castanha do maranhão! Já lhe passa a dor de cabeça!"

E isto, isto é o motivo porque gosto mesmo de morar num bairro a sério.

(E sim, claro, aceitei a castanha do maranhão.)

Caro mundo, eu admito que nunca vou ser minimalista

Eu tenho até alguma pena, mas claramente não fui talhada para o minimalismo. Agrada-me a simplicidade e a descomplicação, gosto de espaços arejados e sem tralha; gosto de agilizar decisões; o projecto mental tinha tudo para ser um grande sucesso.

Sempre que me convenço que tenho de destralhar, após aí uns 70 dias (com sorte) que dividem a decisão e a colocação em práctica (não perguntem, sou pessoa que demora a passar à acção), passados 3,5 minutos de afinco, viro saudosista inveterada: "oh, mas este boneco deu-me a X no Natal", "esta fotografia não está nada de especial, mas lembra-me um bom dia", "esta rolha foi da passagem de ano do milénio", "se calhar ainda vou usar estes sapatos", "este sapo de pelúcia é tão fofinho". Sim, é sagrado: quando tento entusiasmar a costela desapegadora com argumentos racionais imbatíveis, acabo por fracassar a tentar.

Resolvi tentar ficar em paz com isso; é que de facto, eu não tenho de ser minimalista. Eu posso gostar de coisas, pelo menos enquanto isso não for preocupante e tiver divisões cheias de sacos ou pelúcias. Não faz mal ter lembranças do passado, porque também fazem sentido para sermos aquilo que somos e dão-nos alento, fazem-nos pertencer a sítios e a pessoas. Sim, eu tenho alguma tralha e admito; mas acho que o mundo não fica assim tão menos agradável por causa disso. Portanto, #praticaoapego.

30/05/2018

Quatro patas


Tive poucos amiguinhos de quatro patas quando era pequena, porque os meus pais não eram (nem são) especiais fãs deles (actualmente, se calhar poderia ter animais, mas ainda não tenho, por vários motivos). Tive alguns hamsters a meu cargo, mas isso não conta muito como animal empático: os hamsters querem apenas que alguém lhes dê comida infinita para testar a elasticidade das suas bochechas. Alguns dos que tive dignavam-se a sair da toca quando assobiava, no espírito "tens algo para mim?" algo interesseiro. Nos tempos livres, dedicavam-se a roer tudo o que havia; sempre achei que na primeira oportunidade, iam evadir-se da jaulinha e mandar postais de um qualquer sítio paradisíaco para hamsters fugitivos, a beber daiquiris miniatura.

Os vários cães que os meus avós tinham sempre foram, e são, o escape, porque o cão é aquele amigo dedicado que jamais nos cobra nada. Eu lá aparecia, volta e meia, e eles eram sempre os maiores amigos. Não cobram, não querem saber se não telefonaste ou respondeste às mensagens. Não ficam chateados por apareceres menos vezes. Não querem saber se moras a 300 km. Deliram com a tua presença, como se fosses aquela pessoa que eles queriam mesmo ver naquele momento, e isso é tão simples quanto extremamente reconfortante. Mesmo que fiques tempos infinitos sem lhes ligar nenhuma, estão sempre lá para ti quando voltas, felicíssimos. O cão é o amigo eterno, que raramente se chateia. E é por isso que preciso destes cães emprestados.


Hoje faleceu um dos cães da minha avó, o Take, e com ele foi-se um bocadinho do que ainda restava da infância.

27/02/2018

Dos flagelos insignificantes

É mais fácil falar dos flagelos importantes. Aos mais insignificantes e ridículos, ninguém liga. 

Há os flagelos insignificantes de categoria ligeiramente alarmante: as meias com buracos. As meias que desaparecem para sempre na máquina, deixando viúvas as suas comparsas do outro pé. Aquele frasco que não conseguimos abrir, apesar da nossa grande dedicação no ginásio, e que contém um ingrediente de que precisamos . Aquele dedo do pé que está esmagado dentro do sapato, que aguarda a misericórdia quando finalmente calçamos os chinelos. Aquelas sandálias lindinhas que queremos muito usar, mas que transformam os nossos pés numa batalha sanguinária. Aquelas calças tão cómodas que deixam de nos servir. O bolor no queijo, apesar de todos os nossos esforços para o conservar de modo espectacular. O fim das nossas bolachas favoritas quando já não há nada aberto à face da terra. São muitos flagelos, todos bastante irrelevantes, mas que podem atazanar-nos e até destruir um dia (estou a olhar para vocês, sandálias da flor: odeio-vos).

E depois, há os flagelos mesmo insignificantes; os que nem merecem desprezo, de tão completamente esquecíveis. Aqueles que teimamos em ignorar, mas que quando nos lembramos deles, nos tiram do sério. Questionamo-nos o porquê de existirem, mas felizmente, poucas vezes nos lembramos deles. E sim, quase todos temos um ou vários destes flagelos de estimação, que odiamos com todas as forças, e que basta aparecerem no nosso dia para surgir também uma ira inexplicável; de repente, não odiamos mais nada e este flagelo insignificante é o menino-dos-nossos-olhos, sobre o qual vamos destilar todo o veneno.

O meu... são as delícias do mar. Detesto tudo nas delícias do mar: são profundamente mentirosas, porque de delícia não têm nada. Detesto as cores e o formato, porque só me lembram coisas artificiais. Detesto o facto de existirem e alguém achar boa ideia pô-las em paté, que é só uma das primeiras coisas que queremos atacar ao ter um ataque violento de fome num qualquer restaurante. Pronto. Agora que já partilhei isto com o mundo, digam-me lá, qual é o vosso flagelo insignificante de estimação? :)

19/10/2017

Do drama das combinações através de sistemas de mensagens

Dantes, era fácil. Uma pessoa combinava com um mês de antecedência, sítio X, hora Y. Toda a gente aparecia, ninguém se atrasava, a coisa acontecia e íamos todos à nossa vida. 

Todos sabemos bem que as coisas mudaram.

Agora, 4783 mensagens depois num qualquer grupo de um sistema de mensagens instantâneas, a coisa lá se combina, não sem antes:

- Serem propostas 12 datas diferentes;
- Haver uma análise ampla e detalhada do local eleito em 4 ou 5 sites e blogues de opinião diversos, com análise da pontuação média;
- Estudar o melhor trajecto numa qualquer aplicação de mapas;
- Haver mais 980 mensagens à última hora a avisar de atrasos/apresentar dúvidas sobre o local escolhido, apesar de todos os links já enviados/informar da situação da procura de estacionamento/maldizer os servidores da aplicação de mensagens pelo atraso indesculpável/amaldiçoar os atrasos dos transportes;
- Haver vasta documentação fotográfica da comida, do ambiente, das pessoas;
- Haver vários posts em diversas redes sociais a demonstrar como somos bons-vivants inveterados apesar da nossa eventual intolerância a (inserir favorito entre: glúten, açúcares, espaços sem itens de macramé, tudo isto).

Se calhar, precisamos todos de uma pausazinha. Tenho saudades de não ter de pensar tanto em coisas que deviam ser simples.

[Sim, estou deliberadamente a não referir o facto de ser a primeira publicação em mais de dois anos.]

27/04/2015

Dez anos, dez

Criei um blogue numa altura em que tinha muito tempo livre, há dez anos. Nunca escrevi tão pouco como recentemente, mas também nunca achei que este blogue tenha deixado de fazer sentido.

Em dez anos, mudou muita coisa; mudei de cidade, mudei de emprego (várias vezes), mudei eu, mudaram muitos à minha volta, mantiveram-se muitas pessoas de sempre e manteve-se este blogue. Por mais que eu insista em cá não vir, porque já não escrevo aqui todos os dias, há sempre aquele momento em que me apetece voltar. Volto hoje, para comemorar os dez anos e quase dois meses do velhinho errortográfico: porque mesmo assim sem querer, ele já é um dos de sempre.

09/01/2015

Ainda bem que não tenho reuniões presenciais sérias

Caso contrário, o penso rápido do Doraemon que estou a usar no polegar esquerdo poderia dar a ideia (certa) de que sim, uso pensos rápidos do Doraemon tendo muito mais do que 10 anos.

23/12/2014

Prenda de Natal

Ontem caí ao chegar a uma estação de metro cheia de gente. Não me magoei por aí além e levantei-me rapidamente. Não me doeu quase nada e fiquei só com umas nódoas negras extra.

O que me doeu foi constatar que ninguém se preocupou, ninguém perguntou se eu estava bem ou se até precisaria de ajuda, apesar de eu saber que quase toda a gente viu a queda e que se fez parcialmente silêncio. Nem uma pessoa. Por isso, obrigada, mundo, por me dares a indiferença de presente através daquelas pessoas que estavam na paragem. Vou lembrar-me deste péssimo exemplo em relação a mim para tentar ser menos indiferente ao que me rodeia, para tentar nunca ignorar alguém que caia à minha frente. É que não fiquei com vergonha de ter caído; fiquei com vergonha de alguma vez poder ter sido ou ser uma pessoa igual àquelas.

Bom Natal.

04/08/2014

Das coincidências!

Num curso que fiz este ano, houve uma troca de prendas aleatória no final, em que cada um levava qualquer coisa que tivesse a mais em casa. A professora garantia que a aleatoriedade ia fazer sentido; sorri e claro, não acreditei lá muito nisso. 

No final das contas, tanto a prenda que dei, como a que me calhou, fizeram sentido: recebi um colar vindo de não muito longe. E esse sítio de onde vinha o colar representa uma das viagens que quero fazer há já muito tempo; será que seria este ano que finalmente iria a esse sítio? Também não acreditei lá muito nisso.

Amanhã, parto rumo a esse sítio, numa viagem decidida muito à última da hora e que vai correr ao sabor da vontade. Ainda me custa acreditar nisso, mas o facto é que vou. E esta, hein?


04/05/2014

Mãe

A mãe que tira as nódoas que mais ninguém consegue tirar. A mãe que descasca tangerinas para não ficar eu com cheiro nas mãos. A mãe que gosta sempre de nós, estejamos gordos, magros, feios, desgrenhados, mal vestidos, mal cheirosos, sujos (e que nos abraça sem nojo nenhum). A mãe que nos leva ao colo mesmo quando somos pesados, só porque implicamos com areia dentro dos sapatos abertos. A mãe que compra o nosso pão favorito. A mãe que dá berros quando não queremos fazer os trabalhos de casa porque somos preguiçosos. A mãe que odeia falar ao telefone, mas faz um enorme esforço porque somos nós a ligar. A mãe que compra uma coisa quando dizemos que precisamos. A mãe que pensa em tudo. A mãe que acha que sabe quase tudo (e sabe mesmo quase tudo).

A minha mãe é a maior.

28/03/2014

Estás a ficar velhinho, Errortográfico!

9 anos e qualquer coisa, sem qualquer regularidade, mas com certa persistência.

14/01/2014

Um glorioso dia

Em que finalmente, depois de muito penar e me auto-flagelar pela minha péssima memória, redescobri o nome do meu vizinho da frente no escritório. O senhor que todos os dias espezinhava a minha memória com um "Bom dia, Isabel" irá agora ouvir de volta um "Bom dia, Rui", em vez de um bom dia muito bem intencionado, mas sem personalização.

Sete anos, sete

Há uns dias, passaram-se sete anos desde que pus os pés nesta cidade para ficar. Pelo menos, enquanto me apetecer ficar. Tem apetecido sempre, e por isso continuo cá. Cada vez mais, com a certeza de que as distâncias são muito, mas mesmo muito relativas.

Em sete anos, sete, muita coisa mudou, e só ao fim deste tempo começa esta a ser um bocadinho a minha cidade também, onde tenho bons amigos e onde já encontro pessoas na rua sem querer; a cidade que tem segredos que vou desvendando e na qual os pés conquistam cada vez mais metros e recantos.

A cidade onde nasci nunca vai ser esta, nem esta vai tomar o lugar da cidade onde nasci: venho orgulhosamente do cinzento; mas esta luminosidade já conquistou o seu lugar cativo no meu mapa pessoal.

E milhentos dias depois, é dia de voltar [outra vez]

Será que vai ser em 2014 que este blog vai ser desempoeirado de vez?

09/10/2013

Hoje não fazes anos

Pela primeira vez desde que me conheço, não fazes anos hoje. Não vais mais fazer anos.

Lembro-me sempre da avó que ia aos arames com o estenderete da brincadeira, quando tudo era matéria-prima para construir tendas na sala de estar. Da avó que fazia sopa como se cada prato tivesse de ter sustância para 3 dias. Da avó que dizia cibinho em vez de bocadinho, beigue em vez de bug e intermext em vez de Internet. Da avó de paciência infinita com o avô. Das idas ao mercado do Bolhão e do pão que eu pedia sempre antes de vir embora. Da avó que guardava tudo e mais alguma coisa e nunca sabia onde estavam as coisas. Da avó que adorava plantas e mais plantas. Da avó que ouvia mal, "não sei o que dizes, filha". Da avó que tirava a espuma do café toda. Da avó que tanto gostava de se queixar, mas que era das pessoas mais compreensivas e serenas que já conheci. Da avó que dava abraços muito, muito apertados. 

Quero lembrar-me sempre de ti assim, mesmo que nunca mais vás fazer anos. 




05/09/2013

Má educação

Confirma-se, algumas coisas não mudam desde que era miúda: a irritação profunda com velhotas que passam à frente da fila para o autocarro sem dizer nadinha. São as primeiras a dizer que a juventude é mal educada quando o exemplo delas consiste em fazer dos outros parvos. Pior que ter eventuais dificuldades em andar é ter sérias dificuldades em usar o bom senso.

23/08/2013

É do calor

Repetir mentalmente: não sou responsável pelas decisões dos outros. Sou responsável por deixá-los tomá-las sem lhes dizer que acho que estão a cometer um erro, tudo porque não quero ser responsável pela sua tristeza ou falta de coragem para avançar. 

Ser mais amigo é apoiar mesmo que não concordemos, ou dizer que honestamente não concordamos? Entre amigos diz-se tudo mesmo que isso magoe ou faz-se das tripas coração para apoiar, mesmo discordando?

13/05/2013

Quando o tempo nos apanha

Todos sabemos que o tempo passa e que é inevitável que passe. Mas insistimos em ver algumas pessoas como eternas; aquelas que sempre estiveram connosco e que nos viram (e ajudaram, e muito) a crescer. O tempo apanha-nos quando percebemos que agora, são elas que precisam da nossa ajuda para as mesmas coisas em que nos ajudavam. É aí que levamos aquele estalo da vida, a lembrar que há muito poucas coisas eternas, e muito menos pessoas. A lembrar que um dia, vamos ter de dizer adeus.

02/04/2013

É da chuva (e deve ser da Primavera também)

Chove há tanto tempo que parece que não mudamos de mês há meses. Sim, toda a gente fala disso, queixa-se, ameaça emigrar (ainda mais) e solta impropérios quando acorda e vê mais um dia feioso. Nada nos motiva tanto no queixume como a meteorologia. No entanto, acho que hoje tive um sinal claro de que a Primavera vem aí, de vez: uma das minhas violetas, que não dá flor há mais de três anos, TRÊS - as violetas são temperamentais e armam-se em esquisitinhas com os sítios - tem um botão de flor prestes a abrir. Por isso, é desta que estou superconfiante. Se isto não resultar, não sei o que resultará (mas estou já a pensar nisso, é o meu plano B caso toda esta superconfiança falhe. Aguardemos.

19/01/2013

Ele há dias

Tomamos uma decisão errada, simples, mas errada. O universo encarrega-se de nos mostrar, minuto a minuto desse dia, que tomámos uma decisão errada, por todas as vias possíveis e imagináveis, várias vezes ao longo do dia. Às vezes, da pior forma possível.

A única coisa positiva do dia de hoje foi ter adiantado a leitura devido a uma das maiores secas que apanhei na vida, ter tido uma total desconhecida a emprestar-me 30 cêntimos e ter um velhinho a contar-me a vida toda como se o conhecesse há 50 anos, durante 2 longas horas. Haja alguns pontos positivos, no meio da intempérie que envolveu levantar muito cedo com poucas horas de sono, secar escusadamentr num comboio, assistir mais uma vez a incompetência total para gerir uma situação de crise, tudo para chegar à conclusão que a decisão mais sensata envolvia...voltar para trás. Voltar atrás, tornando ainda mais inúteis todas as secas desse dia. Foi como se este dia nem tivesse existido, de tão absolutamente inútil.

O que vale amanhã é sempre outro dia, mesmo que hoje pareça não ter existido a não ser para nos tirar anos de sanidade.

11/01/2013

Lições pela manhã

Uma tentativa desatenta de panificação à herói (ou seja, insistindo na experiência apesar de faltarem ingredientes e de se descurarem partes importantes da mesma) resultou em redundante fracasso: uma tentativa de pão enchumbada, que apesar de passar facilmente num aeroporto cheio de regras se poderia transformar facilmente numa letal arma de arremesso. Julgo até que com propulsão adequada, o "pão" envergonharia vários metais mais pesados. Pois que a comida também pode ser uma arma.

05/01/2013

Do pão

Há muito tempo que ando num lento início de relação com o pão caseiro. Já houve algumas tentativas com sucesso, algumas com menos. No decurso da coisa, e à medida que ia lendo e descobrindo sobre pão, constatei que o melhor mesmo era fazer um workshop com quem soubesse mais da poda, para impulsionar a coisa. Esse workshop é hoje. E se eu já sou uma pessoa de opiniões vincadas relativamente à comida e aos ingredientes, temo vir muito pior logo à tarde; mas também com muito mais vontade de dar continuidade à relação com a panificação. A boa-nova é que mais impossível de ouvir eu não devo ficar, porque eu já consigo ser bastante...como dizer...persistente. Aguardemos.


31/12/2012

Mais

Não consegui escrever muito mais no blog do que no ano passado. Mas num ano, consegui ter várias surpresas boas, bastante trabalho, alguns reencontros com amigos de longa data, conhecer amigos novos, aproximar-me de algumas pessoas que já conhecia, mais dias de bem-estar, alguns passeios. Assisti a inícios, infelizmente também a alguns fins, consegui arranjar mais histórias para contar. Não fiz tudo o que queria nem tive tanto tempo como devia para algumas pessoas e coisas, mas aprendi a lidar mais um bocadinho com essa insatisfação e percebi que era sempre possível melhorar. 2012 trouxe-me serenidade q.b. e gostei disso. Por tudo isto, se isto não é um ano bom, não sei o que será; felizmente, não me posso queixar, e como tenho tendência a nem gostar de lamúrias sem grande motivo, melhor para mim. Foi um ano bom, o de 2012. Agora, venha melhor em 2013, e isso inclui o melhor para aqueles que me rodeiam, para as pessoas de quem gosto. Quero tê-las todas bem perto, ou ainda mais perto, em 2013. Bom ano :)

21/12/2012

/ignore

Hoje em dia, é tão fácil chegar às pessoas. Nem vale a pena começar a listar formas. E no entanto, acho que nunca se esteve tão longe de estar verdadeiramente perto. Vivemos a achar que sabemos tudo uns sobre os outros no Facecenas, até vemos o que as pessoas comem em algumas redes sociais, aquilo de que gostam noutras redes sociais diferentes. É todo um mundo de sociabilidade pegada em que todos somos tão amiguinhos.

E mesmo assim, apesar de todas as facilidades, parece que é cada vez mais normal ignorar chamadas, é banalíssimo não as retribuir, é aceite que não se responda a uma mensagem ou a um e-mail porque bem, se essa pessoa quer mesmo falar connosco ela vai tentar por outra das milhentas formas que existem. Afinal, nós temos coisas tão mais importantes a fazer do que falar com ela.

Hoje aconteceu-me exactamente isso, fui ignorada apesar de ter usado três meios diferentes insistentemente, porque apesar de ser para algo meio insignificante, era relativamente urgente. Por isso, obrigada, pessoa que me ignorou; aprendi que mais vale estar quietinho a não gastar latim, mais vale não me incomodar. Não me chateia que me ignorem perguntas ou que recusem o que proponho; chateia-me sabê-las ali sem se darem ao trabalho sequer se escrever "não dá, adeus!". Pelo menos seriam 10 caracteres e não indiferença total. Se calhar era este, o fim do mundo que anunciavam: há sempre alguém para quem já quase morremos ou que morreu para nós.

25/11/2012

Já não tenho idade para certas coisas

Uma delas é estar a secar numa discoteca à espera de concertos a uma sexta-feira às tantas da madrugada. Praticamente dormi em pé enquanto miúdas fresquinhas de 18 abanavam freneticamente a anquinha estreita coberta por trapinho da moda, acompanhadas de bebidas coloridas. Mas a idade, essa também supreende, às vezes: quando finalmente foi hora do concerto e eu já tinha feito umas 4 siestas em pé, as miúdas encostaram às boxes, cansadas e alcoolizadas, e eu, fresca que nem uma alface a aproveitar o concerto. Sim, a idade pode tirar alguma paciência para esperar, mas também nos dá armas para aproveitar melhor.

29/10/2012

Tricotando ou morrendo a tentar

Pois bem, depois de desbravar o glorioso mundo da panificação, vou tricotar. O meu jeito e paciência para os trabalhos manuais é praticamente nulo, mas macacos me mordam se não vou decidir que odeio depois de tentar com algum afinco. Até ver, consegui pôr a mãe às aranhas para explicar; já aniquilei vários pedaços de lã; já fui a uma loja de lãs com uma velhinha enxuta no atendimento; já tive conversas sobre lã na frutaria; a coisa promete. Daqui a nada, estou a contar como já manejo as agulhas como se de sabres de luz se tratassem; é aguardar.

Lá longe, do outro lado do mar

Tenho algumas amigas bem longe, do outro lado do oceano, onde passa uma tempestade que se diz ser muito má. Sabemos que "longe" não existe quando nos preocupamos como se pudéssemos realmente fazer alguma coisa.

28/09/2012

Do exercício

Normalmente, nunca gosto demasiado dos ginásios; vou por pura obrigação. Ultimamente tenho andado bem mais dedicada e passei a gostar até de lá ir, uma questão de professores certos, aulas interessantes e mais companhia para ir. Foi o ginásio que consegui frequentar mais tempo e de que posso dizer que "até gosto". 

Agora que há concorrência próxima, era de esperar que os preços se ajustassem ligeiramente, mas não. Era de esperar que tentassem cativar os clientes actuais e mais antigos, mas não: as ofertas são quase exactamente as mesmas. E assim sendo, vou experimentar outras opções. O que é estranho é que agora queria continuar lá, mas a minha costela da poupança obriga-me, pelo menos, a tentar os outros. Portanto, será um adeus caso eu goste das outras ofertas. Mas só hoje, ao ir a uma aula com um dos professores de que gosto, me apercebi que é verdade, é possível: vou ter saudades da porcaria de um ginásio. Só pode ser da idade.

17/09/2012

Não sou de protestar, que não sou.

É raro, sim, por inúmeros e variados motivos que não são para aqui chamados.

Talvez proteste quando não me deixarem tirar uma tarde inteira, almoçar com uma das melhores amigas de todo o sempre e a sua filhota mais linda, e ainda ir lanchar com outra amiga e o seu rebento fofo que só ele.

Por isso, por mais que me tirem e às malfadadas vítimas dos recibos de cor esmeralda, não me vão, nunca, tirar o que realmente me interessa.


Sabemos que estamos em casa quando...

...lá fora, se ouve sem parar a ronca do nevoeiro.

22/08/2012

Das corridas

O mais próximo que irei estar de aderir à recente moda das corridas - toda a gente corre, toda a gente quer correr e pôr os exercícios bem visíveis nas redes sociais para todos verem que corre, ter sapatilhas da moda e roupa fluorescente daquela que seca rápido - fiz um magnífico sprint hoje: atingi a velocidade de ponta no corredor, fiz curva rasante para a cozinha, derrapei na direcção do caixote do lixo, retirei tampa, enojei-me com o cheiro do lixo como sempre acontece, fechei saco, retornei a correr, desci as escadas duas a duas, tudo para chegar a tempo do camião de recolha a passar.

Há quem corra para exercício; eu só corro para que não cheire mal.

14/08/2012

Da extrema importância de ter um amigo piloto de aviões

Poder desconstruir quase todos os estereótipos sobre pilotos de aviões; e ter alguém que nos explica que o GPS não é nefasto para o cérebro. 

Para além disso, chegar à conclusão de que se pode ter bastante em comum com um piloto de aviões :)

Se eu escrevesse uma história hoje

Dar-lhe-ia o título "O estivador ninja".

13/08/2012

Era doce 1

Todos os anos festejo o aniversário, todos. E como todos gostamos que se lembrem de nós nesse dia, com uma palavrinha que seja. Nos últimos anos, são muitas as palavras no mundo virtual, cada vez menos as reais; reflexo dos tempos, sim. Contentamo-nos com pouco, com atenções mais impessoais, com um "Parabéns, beijinhos" bem intencionado - e não desvalorizo a atenção, pessoas que não nos davam os parabéns há anos passaram agora a fazê-lo outra vez, e se foi bom reencontrá-las, melhor ainda se têm esse cuidado. Outros costumavam ligar-nos ou enviar mensagens e agora confiam ao virtual a tarefa; nada contra, se calhar afastámo-nos, se calhar eles não têm tempo para mais.

Só que há pessoas de quem esperávamos mais. Aquelas que se lembram sempre, que telefonam sempre, aquelas que esperávamos que estivessem sempre lá. De repente, um belo dia, não estão, e nem sequer se lembram que existimos, nem sequer no nosso dia de anos. Ficamos tristes.

Depois, prometemos a nós próprios que vamos tentar não fazer isso às pessoas de quem gostamos. E agradecemos ter havido quem se lembrasse e se desse ao trabalho.