Saio de casa, viro à esquerda, cumprimento o Sr. Inácio que está sempre a falar com alguém na rua a essa hora, atravesso e viro à direita, subo, subo, subo, olho para as motas estacionadas a ver se alguma me agrada, se houver uma vermelha penso que é bonita, observo o senhor gordinho que está sempre a ler o jornal no carro e pergunto-me sempre por que motivo lá estará, passo no café de esquina que fecha e que nunca tem ninguém embora exiba muitos bolos, subo, subo, passo nas lojas a que não compreendo que alguém vá, vejo os senhores da loja ajentejana que estão sempre a conversar cá fora com os senhores da loja de vimes, olho para o andar de cima do prédio de esquina que está para venda há meses, páro à espera da ordem de atravessar, boa tarde, e sigo em frente, vejo os preços demasiado caros dos restaurantes que aspiram a finos, passo o ginásio só para mulheres, viro à direita onde encontro a rua com nome de substância de mar, que está semi-abandonada, onde tudo está semi-abandonado ou à venda ou a cair, passo o restaurante que cheira sempre bem, cruzo-me com os funcionários das instituições que por ali estão, sigo, sigo, passo a loja de café que gostava de encontrar aberta e os polícias da embaixada, viro à esquerda, entro, aliviada, nas escadas da casa antiga e penso que há poucas coisas tão refrescantes como as escadas, subo, subo, entro, digo boa tarde que é um fixe mais dois toques de mão aberta com dedos juntos do lado direito da cara, palma voltada para a frente. e entro no mundo do silêncio.
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