24/05/2005

Grandes mistérios da humanidade I – os nomes dos bolos portugueses

É inegável: os nomes dos bolos das pastelarias portuguesas são do melhor (alguns bem melhores que o bolo em si, enquanto outros nos revoltam por não fazerem justiça ao teor do bolo).

Ao longo da nossa vida, temos tendência a mudar de bolo periodicamente para melhor espelhar o que sentimos:

a) top of the pops: duquesa, tamar, bispo, napoleão, bola de berlim, jesuíta, milfolhas, delícia de açúcar ou chocolate, guardanapo, caramujo, glória, limonete – bolos ideais para quem não se preocupa com cáries ou calorias, são autênticas bombas-refeição. Comê-los é dizer um grande “não me ralo” ao mundo e todos precisamos de um bolo destes de vez em quando;

b) importados: éclair, croissant, palmier, chauffon de maçã, muffin, donut – bolos para os gourmets internacionais, que querem pedir o mesmo bolo em qualquer parte do país ou do mundo;

c) animálicos: pata de veado, ratinho – não sei bem a que associar esta categoria, talvez a uma identificação com o reino animal?

d) inexplicáveis: estaladinho, arrufada, brioche – os bolos de quem não quer demonstrar nada do que pensa nem pensar no que quer. Podemos estar a pensar numa questão complexíssima de álgebra linear, mas todos conseguimos articular “era um galãozinho e uma arrufada, ‘sáxabori”;

e) genéricos: queque (variantes cenoura, passas, etc.), bolo de arroz, pastel de nata, mariazinha, pastel/tarte/fatia/rolo de qualquer coisa – a força do hábito leva-nos a pedir estes bolos de vez em quando, mesmo quando na realidade não nos apetece bolo nenhum;

f) broa de mel: para quem quer tudo ao mesmo tempo, a broa de mel é o bolo ideal. Sendo um bolo que obedece à máxima ecológica de reutilização, é o primeiro eco-bolo do mundo.


OK, poucos destes nomes têm explicação lógica, mas também quem quer saber disso? Nós, caros amigos, temos um dom precioso: ultrapassamos todas as dificuldades onomásticas com um simples: “Era um daqueles bolos em forma de caramujo compridinho, daqueles recheados de chocolate com coco ralado, nozes e fios d'ovos por cima e mais um sumol de ananás, sáxabori!”.

3 comentários:

Ana disse...

Também gosto dos Caladinhos e dos Beijinhos de Amor! E as cavacas, claro! Estes pertencem aos populares...das feiras mesmo!

izzolda disse...

Hmmm...será que em Portugal não sabemos fazer doces sem que resultem bombásticos?

rukia disse...

o doce etnográfico é o melhor: as cavacas de azeite da beira. São deveras gostosas, para além de tributárias para o nosso património boleiro.