02/05/2005

O pânico ou uma ideia pouco luminosa

Felizmente, foram poucas as vezes que entrei seriamente em pânico. A mais recente foi quando o meu carro sobreaqueceu por ter avariado a válvula que acciona o termoventilador (pelo que disse o mecânico brasileiro que assistiu o carro); a luz da temperatura acende, há um ligeiro fumo que sai do capô e se não fosse eu estar juntinho a uma oficina, desconfio que também o meu pequeno cérebro teria sobreaquecido e pifado de vez.

Foi nesse preciso momento que descobri que preciso que as coisas funcionem, preciso que os aparelhos e as engenhocas e os mecanismos que têm de funcionar de uma determinada maneira, funcionem sempre como têm de funcionar: muito bem. Se houvesse um serviço que garantisse que tudo funcionava sem problemas, eu subscrevia-o sem hesitar. O pior de tudo é que nestes casos de mecanismos complicados que não dominamos (no meu caso, não percebo assim tanto de automóveis), a técnica de emergência auxiliar e apaziguadora – o pontapé – mais não faz do que nos enervar ainda mais.

Resumindo: se eu mandasse na grande indústria de automóveis, as falhas técnicas não acendiam luzes. Desencadeavam, sim, um complexo processo reparador: soa uma música relaxante no habitáculo e é emitido um odor aromaterapêutico calmante. O banco rebate e o condutor adormece. De seguida, através de um avançado sistema de GPS e piloto automático, o automóvel é conduzido até uma oficina de confiança, onde todos os problemas são resolvidos enquanto o condutor é submetido a uma revigorante sessão de massagens.

Ainda mais ideal: o custo deste processo é inteiramente suportado por um qualquer fundo internacional anti-pânico.

Sem luzinhas e indicadores luminosos de problemas, o nosso mundo seria, enfim, melhor.
Que contra-senso, as boas ideias serem designadas “ideias luminosas”! :)

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