30/11/2018

Fé na humanidade: ligeiramente restaurada

Acho sempre que sou uma pessoa que não dá demasiado nas vistas, apesar de ser bastante fiel a sítios e a pessoas: vou à Anabela e à Paula à fruta. Já me conhecem no supermercado, porque invariavelmente vou por volta da mesma hora. A senhora da loja a granel? Unha com carne. A Dona São dos congelados só lhe falta vir às minhas festas de aniversário, de tão bem que trata as pessoas, como se fossem as mais importantes do mundo; merecia acesso a pelo menos duas fatias de bolo.

Depois há sítios onde não vou assim tanto, vou voltando ocasionalmente: é o caso da mercearia que vende pão alentejano. A senhora é alentejana e de poucas falas, mas parece reconhecer-me porque trago quase sempre o mesmo: pão alentejano. Enquanto pagava hoje, disse entredentes, bela dor de cabeça, deve ser da fome. E continuei a guardar as compras. Vejo a senhora lentamente a dar a volta ao balcão, a pegar num frasco e a aproximar-se. 

"- Tire uma castanha do maranhão! Já lhe passa a dor de cabeça!"

E isto, isto é o motivo porque gosto mesmo de morar num bairro a sério.

(E sim, claro, aceitei a castanha do maranhão.)

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