Tive poucos amiguinhos de quatro patas quando era pequena, porque os meus pais não eram (nem são) especiais fãs deles (actualmente, se calhar poderia ter animais, mas ainda não tenho, por vários motivos). Tive alguns hamsters a meu cargo, mas isso não conta muito como animal empático: os hamsters querem apenas que alguém lhes dê comida infinita para testar a elasticidade das suas bochechas. Alguns dos que tive dignavam-se a sair da toca quando assobiava, no espírito "tens algo para mim?" algo interesseiro. Nos tempos livres, dedicavam-se a roer tudo o que havia; sempre achei que na primeira oportunidade, iam evadir-se da jaulinha e mandar postais de um qualquer sítio paradisíaco para hamsters fugitivos, a beber daiquiris miniatura.
Os vários cães que os meus avós tinham sempre foram, e são, o escape, porque o cão é aquele amigo dedicado que jamais nos cobra nada. Eu lá aparecia, volta e meia, e eles eram sempre os maiores amigos. Não cobram, não querem saber se não telefonaste ou respondeste às mensagens. Não ficam chateados por apareceres menos vezes. Não querem saber se moras a 300 km. Deliram com a tua presença, como se fosses aquela pessoa que eles queriam mesmo ver naquele momento, e isso é tão simples quanto extremamente reconfortante. Mesmo que fiques tempos infinitos sem lhes ligar nenhuma, estão sempre lá para ti quando voltas, felicíssimos. O cão é o amigo eterno, que raramente se chateia. E é por isso que preciso destes cães emprestados.
Hoje faleceu um dos cães da minha avó, o Take, e com ele foi-se um bocadinho do que ainda restava da infância.
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