Eu gosto de cães. São geralmente simpáticos, afagáveis, brincalhões e fôfinhos.
Os únicos cães do mundo de que eu não gosto até agora são os da minha vizinha do lado. À vista desarmada, parecem dois rafeirinhos inofensivos, balofos e com sérias dificuldades de locomoção devido à vida fisicamente sedentária.
Mas as respectivas gargantas, senhores, que poderio vocal. Fustigando toda a vizinhança do alto do seu terraço, sentem-se donos do mundo.
Cheguei à conclusão de que um dos cães, decididamente o guru espiritual do outro, é filósofo. Ladra a tudo: a quem passa, aos ruídos, aos pássaros, aos outros cães, ladra a toda a hora, principalmente quando está toda a gente da vizinhança em sua casa, excepto...os próprios donos dos cães. O outro lá lança o seu latido menos portentoso, para mostrar que também manda o seu bitaite. Qual dupla Sócrates/Platão, andam sempre juntos a filosofar, um mais activo, outro mais caladinho e surrelfa (com certeza irá ainda publicar vários livros com os ensinamentos do mestre ladrador, arrecadando rios de dinheiro à custa do outro).
Nos momentos mais filosóficos do canídeo, apetecia-me oferecer-lhe uma generosa taça de cicuta. Mas a minha natureza genericamente pacifista manda-me pôr a música mais alta e esperar que ele se canse.
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