22/06/2005

A vida em mono

Nós portugueses temos tendência para ter um tom de voz monocórdico (uns mais, outros menos, obviamente, mas a essência está lá e é inegável).

Para compensar a homogeneidade tonal, utilizamos o volume; vai daí, quando queremos argumentar ou debater, toca a projectar a voz para níveis ultra-sónicos em vez de apostarmos na subtil entoação para marcar a nossa posição. Ainda por cima, quando há pessoas que realmente apostam na entoação, têm o azar de soar extremamente teatrais a la Morangos com Açúcar (conhecida telenovela, para os mais desatentos aos temíveis fins de tarde da televisão nacional). OK, mais uma vez, há casos de sucesso (em número ínfimo).

Vem isto a propósito de uma senhora que frequenta habitualmente uma das salas do local onde trabalho, que tem com toda a certeza um dos tons de voz mais monocórdicos do mundo. Com a agravante de evidenciar também aquele descontrolo tonal que provoca os picos de voz repentinos e retira toda a credibilidade às ideias. O resultado é um cruzamento entre um violino desafinado, o som de uma colher a rapar um tacho de ferro fundido e comprimidos para dormir, tal é a monotonia do tom (que contrasta com os súbitos picos, espelhando a contradição latente). Memorável.

1 comentário:

izzolda disse...

É verdade...mas a senhora é mono+desregulado+irritante :D Mais vale o monocórdico clássico!