Todos temos um revoltado dentro de nós, que ataca com maior ou menor frequência. Família, amigos, transeuntes inocentes, funcionários de lojas ou serviços públicos, qualquer pessoa serve quando queremos transmitir a nossa revolta, seja ela mais ou menos justificada e indignada.
Motivação, não falta, e dentro dos revoltados existem várias tipologias:
I) Revoltado in extremis: poucas vezes se revolta, mas quando o faz, pode passar quatro horas e trinta e sete minutos a descrever o motivo a quem o quiser ouvir. Se ninguém o quiser ouvir, discursa para as pedras da calçada até lavar a alma com palavras de indignação.
II) Revoltado de meia-tigelazinha: este tipo de revoltado é de cariz fracote. Não se dedica afincadamente a extravasar a revolta, limitando-se a esporádicos queixumes acerca do tempo, das filas de espera nalgum local, da secura avançada de um determinado bolo, do trânsito algo incomodativo, etc.
III) Revoltado intermédio: dedica-se aos temas mais em voga na actualidade: aquecimento global, extinção de algumas espécies, inflação, entre outros. Revolta-se com algum afinco e demonstra algum cuidado na selecção das temáticas despoletadoras da revolta.
IV) Revoltado-cliché/por-dá-cá-aquela-palha: tudo e todos revoltam este revoltado inato. Os preços das coisas que estão sempre pela hora da morte desde que veio o euro, os salários que são sempre baixos e lá no estrangeiro é que se ganha bem, o trânsito que está sempre mau, o vencedor do festival da canção porque a nossa canção era bem jeitosa, os políticos - esses gatunos! - que só roubam, a gasolina que não pára de aumentar, a comida que dantes é que era boa e agora nada presta e tudo tem doenças e mercúrio, entre outros inúmeros temas. Tudo pode desencadear a língua viperina deste revoltado, que já não sabe fazer outra coisa a não ser revoltar-se; por ele, por todos os que o rodeiam, pela humanidade em geral.
V) Revoltado por contágio: nunca chega a revoltar-se com nada, mas ouve atentamente todos os outros revoltados e concorda, solidário, com quase tudo.
E vocês, já analisaram o vosso potencial revoltoso?