27/09/2005

Da importância do cabeleireiro

Quando era pequena, a minha mãe cortava-me o cabelo à tigela – corte esse que nunca considerei que me favorecesse por aí além, mas que tive de manter durante largos anos. Depois, passou a arrastar-me para o cabeleireiro à viva força; e como odiava as secas que apanhava, levava uma parafernália de equipamento-para-passar-o-tempo (coisas tão versáteis como mini-lápis de cor de aroma frutado, ganchos de cabelo e bonecos de plástico, livros variados).

Quando comecei eu a escolher o corte com o aval maternal, a coisa tornou-se mais empolgante, embora na época, os cortes fossem invariavelmente todos iguais nas pessoas que conhecia nos anos 80 (franja e comprimento algures entre o queixo e o ombro, para usar a bela da bandolete/fita - ou pior, para fazer a combinação pála com gel + bandolete).

Hoje em dia, e como não tenho a vantagem de conseguir cortar o cabelo a mim própria, como algumas pessoas, vou ao cabeleireiro para promover a saúde capilar, lavar e arejar a alma. Posso escolher o corte, o penteado, o champô, o gel...mas não posso nunca, jamais, estar calada.

Quando era pequena, ninguém levava a mal se não falasse...hoje em dia, tenho de ir ao cabeleireiro com vontade de falar. Com vontade de dissertar sobre a crise, sobre os preços elevados, sobre novelas e reality shows que nunca vejo. Para fugir aos assuntos que não domino, uso a estratégia mergulho-numa-revista-cor-de-rosa, uma das inúmeras disponíveis no local (mas quem raio é a Kiki Trindade?!). Mas nunca consigo fugir totalmente, há sempre uma pergunta que se destina a incluir-me na conversa. Eu agradeço o esforço, mas...acham que se levar uns lápis de cor consigo escapar?

14 comentários:

Pitucha disse...

Eu acho que é por isso que há tantas revistas nos cabeleireiros! Eu finjo que não passo sem ler a Marie Claire de três anos antes!
Beijos

fernando lucas disse...

ai está algo que nunca experimentei, mas será que um "metrosexual" (maneira diferente de chamar abichanado a um gajo) também lê revistas durante o tratamento capilar ou para disfarçar lê revistas de automóveis?

izzolda disse...

pitucha: por acaso o meu cabeleireiro tem rotação semanal de revistas ;) ***

manualdedeus: acho que para disfarçar lêem mas é a maxhóme; as revistas de automóveis não exigem tanta atenção...

. disse...

Ai Izzoldinha, como te compreendo! Acredito que faça parte da formação de cabeleireiras e esteticistas a arte de encontrar assunto com o cliente, pelo q vão testando temas até a pessoa reagir! Sei q sou uma cliente difícil, nunca tive qualquer talento para a conversa de ocasião, aliás, abomino conversa de ocasião, mas há sítios onde simplesmente não nos conseguimos esquivar, ponto final, a pessoa tem mesmo de se render. Mesmo assim desconfio que há por aí, no circuito underground dos salões de cabeleireiro e estética, uma lista negra onde figuro certamente como cliente silenciosa e potencialmente antipática... Suspiro.

izzolda disse...

Pois, é que nestes locais, o silêncio é considerado sinónimo de antipatia! O que nem sempre é verdade...

Poor disse...

cá está a prova de como o olfacto é o sentido associado à memória, lápis de cor de aroma frutado? aposto que te lembras bem desse cheirinho!
no cabeleireiro o que vale é mesmo a lavagem com massagem, claro!:)

izzolda disse...

voudaquiparaali: que sortuda! O meu cabelo é liso, e qualquer corte exagerado pode calhar mal.
rosa carne: eu conheço o meu cabeleireiro (sim, é um homem! E casado.) há muiiito tempo; ele é de poucas falas, mas as ajudantes não...
amie: então não lembro dos lápis! A-do-ra-va aqueles lápis de cor! Snif, snif...

t-shelf disse...

A conversa de cabeleireiro é assim um bocadinho como a música de elevador: aguentar estoicamente e não voltar lá nos próximos 3 meses para tentar esquecer a experiência.

Patsy Dear disse...

curioso... fui ao cabeleireiro no domingo c a minha sista e a palhaçada foi tão grande que não pagámos no fim! "provoque uma gargalhada e nós oferecemos um corte de cabelo!" eheh! adoro cabeleireiros!

saí de lá com franja. pareço a Amelie Poulin.

Ana disse...

Realmente os cabeleireiros são sítios fantásticos para se fazer um estudo sociológico! Temas mais falados, revistas mais lidas, vítimas preferidas para desancar....
Apesar disso, a minha cabeleireira é muito porreiraça e as assistentes também! Vamos falando, mas, assim como a voudaquiparaali sou tagarela, e como já estou treinada para ouvir só aquilo que me apetece, a coisa vai-se levando!

Freddy disse...

Eu sou um eterno traumatizado pq até aos 10 anos tive sempre cabelo à tigela...Qdo o cortei à rapaz até me passei!!!

Beijitos da Zona Franca

Anónimo disse...

Também quero um cabeleireiro homem!...
Sexta-feira lá vou para uma barrigada de Luxs, Caras...
O que vale é que só lá vou de tempos a tempos e...Confesso: na hora de pagar... É cá um arrepio!!!

MIN disse...

Tb sou eu que corto o cabelo à criança mais pequena, mas nada à tijela... muito à frente!

MIN disse...

tijela, com erros ortográficos, pode ser? ;o)