Não sou espectadora assídua de telenovelas há já alguns anos. Desde os tempos em que havia só dois canais portugueses, quando ainda não se falava em televisão por cabo; desde aqueles tempos de infância em que as saídas à noite eram só com autorização. Nessa altura, toda a gente, ou quase toda, devorava “a” novela. Sim, porque só havia uma.
Em casa de uma das minhas avós e da minha tia-avó, corria para o meu lugar favorito da sala por volta da hora de início - geralmente, ao colo de alguém - e só descansava quando ouvia a música da novela. E então cantava muito alto para quem quisesse ouvir: "ai quem me dera meu chorinho, há tanto tempo abandonado..."
Hoje em dia, desabituei-me de seguir telenovelas e vejo muito raramente, quando alguém lá de casa está a ver e eu não me importo de estar a vegetar. Fico insuportável, dizem-me, porque como não vejo, faço imensas perguntas sobre o enredo. Comento muito. Critico os penteados (e aqui, lembro-me da telenovela com nome de sobremesa, vá-se lá saber porquê) e as maquilhagens, sempre semelhantes, sempre impecáveis e algo exageradas, as roupas, a acção. E aqui é que entra....o António.
É que eu realmente já não consigo ouvir falar do António. Mais de metade da novela em questão foi passada a avançar teorias sobre quem terá morto o António. Capas e capas de revistas a anunciar vários assassinos, todas as semanas. Ainda por cima, o desfecho está a ser bem à portuguesa: arrasta-se, arrasta-se, arrasta-se e imaginem que nem sequer se sabe ainda quando vai ser transmitido o episódio final, tal é a guerra de audiências do horário entre os vários canais (já era para ser a semana passada). Isto já não é suspense, senhores, isto é a lama, o lodo. Haja misericórdia! É que paciência, já não há.