19/01/2006

Das proximidades



Eu sei que as hierarquias sempre existiram e existem para que haja alguma organização. Neste caso, refiro-me a hierarquias laborais e de empresas em geral - grandes ou pequenas, todas têm uma hierarquia mais ou menos vincada. Nada de demasiado novo até aqui; uns mandam, outros obedecem com maior ou menor autonomia e cumprindo ou não as suas funções, outros andam a enfeitar ou a fingir que estão ocupados, ou ocupam-se a dar graxa aos superiores, etc. - o normal numa empresa com organização do tipo pirâmide.

O que não acho tão normal é a importância que damos à hierarquia nas relações interpessoais e nas formas de tratamento. Senhor doutor para cá, senhor engenheiro para lá, doutora isto, doutora aquilo, senhor professor xis e zê. Educação continua a ser sinónimo de títulos, de termos de utilizar três palavras em vez de uma para falarmos com alguém. É a burocracia aplicada aos relacionamentos. Como se o respeito ou a autoridade que alguém inspira ou possui se medissem pela quantidade de títulos que se utilizam para designar essa pessoa.

Esta situação irrita-me particularmente em empresas pequenas (porque é numa delas que trabalho). Sim, que não há-de ser por ser uma micro-empresa que não há direito a títulos, não senhor! Chefe é chefe e empregado é empregado e há que distinguir a coisa fazendo com que os funcionários tratem os chefes por senhores doutores, mas não vice-versa; isto apesar de as habilitações académicas serem as mesmas e as funções, praticamente as mesmas. E com isto, não quero implicar que queria que me tratassem por senhora isto ou aquilo ou de forma diferente. Só queria que fosse menos complicado lidar com quem trabalho todos os dias. É
que o palavreado todo que implicam os títulos é assim um bocadinho...irritante. É uma perda de tempo materializada em palavras.

Pior ainda, achar que por causa desse mesmo palavreado estamos numa posição menos “importante”, não tendo direito a determinadas coisas. Direito a discordar e ter uma opinião diferente. A chamar a atenção - sempre educadamente, claro. Disso, não há palavreado que me impeça.

12 comentários:

Unknown disse...

concordo ctg!

odeio quando me chamam "chefe". sou Ivan , sem senhores nem chefes, nem coisa nenhuma. quer dentro, quer fora da empresa!

Miguel disse...

É assim mesmo, srª Drª!

izzolda disse...

Ó Sr. Dr. tio, por quem é :) Volte sempre!
[o "você" é outra das coisas que me faz alguma espécie!]

Miguel disse...

O Izzolda tás a ver? Se te faz espécie deixa cair... Percebes? E já agora espalha, porque existe a quem faça espécie o tu, ao tio! ;-)

Ana disse...

Eu cá gosto que me tratem por Ana...o Dr que me lembre não está no B.I.
A melhor que ouvi é de um padre, que é prof na católica e a quem devem chamar Sr. Dr. e não sr Padre!!!
Se o Dr (ou qualquer outro título) fosse sinónimo de educação vivemos num país hiper educado e de alto civismo...ao menos serviam de alguma coisa!

fernando lucas disse...

isto só acontece em países pobres...
durante anos passamos fome no tempo do fascismo e ai da pessoa que não tratava um superior por Sr. doutor ou engenheiro, como em África, os pretos (etnia africana) chamam ao brancos (caucasianos) "patrão".
essas peneiras ainda perduram nos dias de hoje. porque no resto da Europa cagam nisso tudo.

Parrot disse...

Como está o teu avô? Espero que bem.
Izzolda,

De facto vivemos num país que vive de aparências. O título académico é uma “mania” que existe muito em Portugal. A competência, o profissionalismo a liderança não necessita de título.
Eu trabalho num local onde todos nos tratamos por “tu”…..e somos muitos.

Beijoka

scelta disse...

Pois eu até queria dizer alguma coisa mas ando com este País tão entalado nas minhas cordas vocais, que fico-me pelo... "Subscrevo o doutoral post"!

Cumps.

Terry_Henry disse...

É tudo mt culto! Eles são Dr, Engº, Arqt, até Sr. Dr. Engº!!!
Tenho uma história gira. Estive numa formação em Madrid, em que os formadores e responsaveis da firma eram supersimples, faziam questão de ser tratados por tu e apenas pelo nome proprio.
Durante um jantar o "Tótó" do filho do meu patrão, lembrou-se de puxar dos galões e dizer que estava a tirar a licenciatura de Gestão & Marketing, por isso era quase Dr!
Os Nuestros Hermanos fingiram-se empressionados e apartir daí começaram a chamar-lhe Sr. Dr. o que o deixou rejubilante!
Viemos depois a saber que o gestor da firma era doutorado em direito, os assessores e vendedores eram Licenciados e doutorados em fisico-quimica, Biologia e engª quimica!
ESpanhois1- Tugas0

joaninha disse...

Apoiado!!!

Zé Clarmonte disse...

Aqui onde eu ainda trabalho é muito giro. Há os Srs. Arquitectos, os Srs. Engenheiros, os Srs Doutores, os Srs Técnicos e os Srs. Estagiários, mas na prática todos se tratam pelo primeiro nome ou diminutivo, tipo: Sr Arquitecto Chico ou o Sr Engenheiro Zé (não, não sou eu.

Rita Maria disse...

Eu suspirei de alívio quando chegou o meu cartao multibanco, sem títulos nenhuns...