08/02/2006

Dos atrasos


No país em que vivemos, dá-se pouca importância aos atrasos. Horários. Ou seja, com grande frequência, chegamos atrasados (há excepções, mas conheço pouquíssimas pessoas que nunca se atrasam), e com grande frequência também, ninguém nos faz nenhum reparo ao atraso, porque é considerado normal atrasarmo-nos e porque até fica mal alguém manifestar incómodo, porque um atrasozinho nunca fez mal a ninguém (mais uma vez, salvo raras excepções de pessoas [totalmente] intolerantes, com mais ou menos razões para isso, que não deixam passar atraso nenhum por menor e mais desculpado que seja).

E nós atrasamo-nos. Por um motivo plausível - geralmente, um imprevisto que surge, o iogurte líquido entornado na roupa a 2 minutos de sairmos de casa, um acidente na estrada do costume, mais trânsito do que o normal - e frequentemente, por motivo rigorosamente nenhum. Ne-nhum. Simplesmente porque nos deixamos estar, deixamos passar as horas e pensamos que não há grande problema. Ou seja, por desleixo. Ainda pior: por desleixo crónico (agravado, se ainda por cima presumimos que a pessoa espera sem sequer darmos satisfações, só porque...não nos apetece?). E os píncaros do atraso desleixado: quando o atrasado sabe perfeitamente que vai chegar atrasado e insiste em marcar horas impossíveis. E depois chega uma hora e meia depois com o ar mais natural do mundo. Sem dizer uma palavra acerca disso. Porquê? Escapa-me agora o motivo. Porque - e agora vão desculpar-me a franqueza - me recuso a compreender tal atitude. Puro egoísmo, provavelmente.

São estes são os atrasos que mais me incomodam. Não porque nunca me atrase, nem por condenar o tal atrasozinho insignificante (sim, sofro desse mal tão português que é compreender o ligeiro atraso, ao contrário do que acontece na maior parte do resto do mundo, civilizado ou não). Mas porque – e agora posso estar a dar uma novidade a muita gente – geralmente, há alguém à nossa espera. Alguém que até pode ter coisas melhores, mais urgentes, mais importantes para fazer, mas que por algum motivo, está à nossa espera.

É aqui que entra a outra parte do atraso: as desculpas e as satisfações. Que são devidas, quanto a mim, quando existe um atraso. Desculpas, satisfações, simples e eficazes quando o motivo é plausível. Sem invenções do género “ah, que estou mesmo a chegar” e tunflas, 47 minutos depois é que chegam (quem é que estamos a tentar enganar quando somos os primeiros a saber que é impossível?). Sem desculpas crónicas, que já não colam quando são ditas 32,5 vezes numa semana. Sem invenções estapafúrdias. E muito menos, sem sequer dar cavaco (isso então para mim, é totalmente impensável).

Quando temos consideração por quem espera, esta parte das desculpas é imprescindível. Se quem está à espera até já sabe que somos atrasados crónicos – a desculpa implícita mais esfarrapada que existe, porque o problema não é incurável e nem sequer exige grande esforço – ainda pior será não dizer nada. Porque se para essa pessoa somos atrasados crónicos, isso quer dizer que essa pessoa já esperou muitas e muitas vezes. E pode chegar o dia em que ela decide não esperar mais.

O tempo já é tão pouco. Com o nosso, temos a liberdade de fazermos o que bem nos apetecer. E que tal deixarmos os outros fazer o mesmo?

10 comentários:

izzolda disse...

Claro, rita, acontece-nos a todos....a diferença está na abordagem ao atraso :)

izzolda disse...

Como é que o meu comentário ficou antes do teu?! :|

Sukie disse...

Eu detesto deixar as pessoas à espera, mas às vezes acontece atrasar-me.

Ana disse...

Eu cá tento não me atrasar, mas...às vezes acontece!!! E claro que os atrasos acontecem...mas, o que irritam são aquelas pessoas a quem tens que dizer "é às 20h" quando na verdade está marcado para as 20h30...e "rezar" para que ainda assim consiga chegar a horas!!! (são atrasados crónicos, acho eu....lol)

MIN disse...

Eu detesto atrasos nas consultas médicas.... nunca começam à hora marcada.... esperas e bem e ainda pagas por cima!!!

Periférico disse...

O prémio de consolação para quem espera é o ditado:"Quem espera sempre alcança".

De tanto esperarem pelos atrasados crónicos essas pessoas merecem um prémio.

O atrasosinho insignificante até que pode ser genético, mas os de 47 minutos já me parecem desleixos e faltas de considerações absolutas, agravadas quando não há um pedido de desculpas condizente!

Beijos

Mae Frenética disse...

Eu tento chegar sempre antes da hora e se há coisa que me irrita é esperar por outros!
É que há quem tenha mais que fazer!! :)))

Folha de Chá disse...

Conheço tantas pessoas assim... E como os outros já sabem o tempo que elas demoram a chegar, dizemos-lhes sempre que o jantar, ou o lanche, ou o que valha está marcado para meia-hora antes do que aquela que realmente vai comelar o jantar. Assim, já não se atrasam. E é mesmo como dizes: é desleixo puro e simples. Deixam-se estar no sofá até quase à hora e só naquela altura é que se resolvem ir arranjar, pintar, perfumar, etc. Enfim.

agent provocateur disse...

tocaste na "frida"... o pior ainda são as pessoas que ficam chateadas se dizes alguma coisa. como se tivesses a obrogação de esperar, como se essas pessoas fossem o supra sumo da coca-cola!

Terry_Henry disse...

Ola Izzolda... Errrhh... bem... desculpa chegar atrasado 1 dia para comentar o teu post... mas... é assim, é assim... é que... boh... o pc tava sem bateria, eu não tinha rede e... a net encravou, eu chamei o tecnico e... o orçamento era muito caro, mas... ó pá, foi sem querer... Mas não volta a acontecer, prometo!!!
;-D