09/03/2006

Liberta a matraca que há em ti!


Todos temos os nossos momentos de matraca*. Aqueles momentos em que não conseguimos [nem nos conseguem fazer] parar de falar. As palavras soltam-se em catadupa vertiginosa, como num momento de absoluta catarse linguística (OK, OK, eu páro :). Nada disto seria problemático se...não houvesse sempre uma pobre alminha sacrificada. Que não vai ter muitas opções, a não ser ir soltando uns hã-hãs, pois, claro, sim, sem dúvida. Temos de ser uns para os outros, e as matracas precisam destas almas caridosas para levar a cabo a sua purificação.

Pois.

Tudo isto é muito bonito na teoria. Mas se não nos custa mesmo nada ouvir o momento-matraca de um amigo, isso já não se aplica a desconhecidos. E é fácil saber quando a alminha caridosa vamos ser nós. Exemplifiquemos então com uma situação totalmente aleatória:

Contexto: balcão de café, hora do pequeno-almoço.
Jovem e senhora de meia-idade que não se conhecem de lado nenhum.

Fase 1: pretexto mais ou menos inútil para iniciar o momento-matraca.
Neste caso, um empregado de café que passa com a couraça do fiambre na mão.

Fase 2: a senhora de meia-idade lança a conversação, com um comentário que envolve receitas deliciosas feitas pela mãe, com base nessas couraças de fiambre.

Fase 3: a jovem, que por puríssima coincidência é vegetariana, ouve o repto e mais não faz do que esboçar o sorriso amarelo número 5 (sendo 5 o nível de sorrisos amarelos menos bem conseguidos). Apercebe-se do perigo iminente de momento-matraca por parte da senhora de meia-idade.

Fase 4: inicia-se irreversivelmente o momento-matraca. A senhora de meia-idade disserta, imparável, sobre: mais receitas com couraças; arroz malandro; qualidade da carne em geral; gripe aviária; qualidade do peixe e presença de salmonelas no mesmo; qualidade da alimentação em geral; colesterol; várias receitas de peixe que costuma confeccionar; filho; pai acamado; trabalho; cães; doenças de cães, com especial destaque para os vários problemas de saúde do seu cão; (...).

Fase 5: fim da conversa; jovem, após utilizar cerca de 6 vezes hã-hã, 2 vezes claro e incontáveis pois, põe fim ao seu momento de alma caridosa com uma frase simples do género “Pois, é assim. Então muito bom dia!”.

Os meus momentos-matraca são mais direccionados para pessoas conhecidas. Mas compreendo a importante função de ser alma caridosa, de vez em quando. É a balança kármica a precisar de ser equilibrada. Portanto se de repente, um desconhecido começar falar convosco, preparem-se...pode muito bem ter chegado a vossa vez.

*matraca: falador importuno (definição daqui)

15 comentários:

Dora Rebelo disse...

Vou libertar a "posteira" que há em mim para perguntar: Para quando um "Liberta o agente secreto que há em ti"?
Numa época de terrorismo e escutas telefónicas, entrar em contacto com o nosso agente secreto interior é imperativo!

Anónimo disse...

Ontem tive de ser uma "alminha caridosa"... Calha a todos, né?

Mónica Lice disse...

Eu também só sou matraca quando conheço bem a outra parte!:))

Anónimo disse...

ah ah ah! do melhor da série! :P:P:P:P

e bem te entendo! já estive dos dois lados, se bem que não muitooooo frequentemente! balhamedeus se isso não fosse equilibrado! lol

Miguel disse...

hhmmm sim, pois... Claro, claro!
;-)

Poor disse...

quando publicas a série completa?:)

pah, um segredo só para ti, eu sou A verdadeira matraca!

izzolda disse...

akicoisa: é uma boa ideia, vou anotar ;)

miguel: estava a ver que ninguém me chamava matraca com um post deste tamanho lol!

amie: já publiquei, aqui no blog ;) há lá edição mais internacional que esta? E pessoalmente, não notei que fosses A matraca ;) Vais ter de me massacrar com mais intensidade! ;)

Folha de Chá disse...

Sabes de que é que isso é sinal? Sinal de que és boa pessoa e que isso transparece. As matracas sabem ver quem tem paciência para elas e escolhem as boas almas. :) Nada que já não transpareça dos teus posts e comentários. :) Estás a saldar positivamente o teu karma. :) Aproveita. :) E continua assim, que as pessoas sozinhas precisam de pessoas como tu, que as ouçam. :)

Wakewinha disse...

Não consigo imaginar uma vegetariana a dizer hã-hã a uma conversa que envolve uma fatia de porco dentro de um pão! Por acaso és tu a vegetarian? Então mais prazer em te conhecer, jogamos na mesma equipa! ;)
Um beijinho*

Etelvina disse...

Tenho um problema com essas matracas de que falas.... ADORO-AS!!! hehehehe
Aprendo sempre algo novo com elas, conheço um bocadinho mais os humanos e consequentemente a mim também. E depois... penso sempre no previlégio que é fazer com que essa pessoa se sinta à vontade para falar do nada comigo (sim, são matracas, mas não falam com qq um ;) )
Aproveita-as!!!
bejos

Terry_Henry disse...

Eu por vezes também sou 1 matraca!...
Para não dizer quase sempre...
ou sempre...
hoje n estou uma matraca...
é estranho... mas não estou...
Normalmente depois de 10h de trabalho em q o unico ser vivo c que posso falar é o cão, apetece-me ser matraca.
Mas como hoje n estou matraca...
Não bou falar mais disso....

PS: ainda bem q gostaste do bolo(estava conservado em formol por isso n se estragou! lol)

Ana disse...

O meu último momento matraca, ou melhor, o meu último momento de alminha caridosa para matraca foi a caminho de Dublin...eu a morrer de sono e a querer aproveitar a viagem para dormir e uma sra (também de meia idade) a contar-me a vida dela toda!!!!
Bem...mal por mal, sempre fui praticando o meu inglês adormecido!

Mae Frenética disse...

Eu acho maravilhoso qdo as pessoas nos acham simpáticas o suficiente para nos contarem a sua vida.
Eu acabo por dar alguma "corda", pq se falam é pq precisam mesmo, não é?

Eu tb sou matraca, sobre o meu filhote então!

Beijocas

Periférico disse...

Uma boa acção fica sempre bem ;-)!

Beijos

Rita Maria disse...

Adoro os teus libertas!